Constanza Pascolato, considerada a papisa
da moda no Brasil, lançou a publicação Meu
Caderno de Estampas na última edição do SPFW 2015. As estampas preferidas
de Constanza foram parar nas páginas do seu livro, estampas estas produzidas pela tecelagem Santaconstancia, da sua
família.
“Sempre digo que na moda é proibido proibir. Vejo, por exemplo, mulheres da minha idade felizes da vida usando minissaias, saltos altíssimos ou jeans justérrimos, desconstruindo, à maneira delas, o que antes parecia impossível. Não sou eu quem vai dizer que pode ou não pode.”
Seu livro reúne conselhos de estilo, comportamento e bem estar.
Um copo d’água em jejum e uma calça jeans básica são, segundo Costanza,
indispensáveis. Gentileza e amor próprio também.
“Estilo distingue quem espelha de quem irradia. Ele nos dá
sentido de competência, prazer e segurança. Transcende tempo e gênero e - por
que não? - a própria moda”, analisa.
Acompanhe abaixo a entrevista de Constanza ao Diário de
Pernambuco
Quanto tempo levou para produzir Meu Caderno de Estampas? E como
selecionou as estampas/imagens?
Foram seis meses entre a ideia original e a execução do projeto,
que envolveu as equipes da Santaconstância e da editora Planeta. No dia a dia
da fábrica, trabalhamos exatamente com criação de estampas e cores, sempre
pensando algumas estações à frente, numa dinâmica que é acelerada, bem rápida,
mas ao mesmo tempo uma tarefa contínua, ou seja, já fazemos isso, diariamente,
há muitos anos. No caso do
livro-caderno, o critério de seleção, que incluiu desenhos de acervos e novas
criações, acabou sendo bem pessoal e, além de editar nossas estampas
prediletas, pensamos de um jeito mais intemporal, já que o livro foi feito para
durar, para guardar. Lembrar que as imagens seriam impressas em papel, não em
tecido, foi outro aspecto importante. São estampas e desenhos de que gostamos
muito e que imaginamos continuar gostando daqui a alguns anos. E tem também uma
boneca, que é uma graça, para que cada um monte um look, a exemplo daquelas
revistinhas das infâncias pré-digitais, de um passado que hoje parece bem distante. O legal é que esse
recurso fashion-lúdico ainda parece muito atual.
É uma ideia inspirada na febre dos livros de colorir? Ou
acredita que, com as dicas de moda anexadas na publicação, seja um livro
atemporal?
De alguma forma, a possibilidade de realizar o livro-caderno tem
a ver, sim, com a “moda” dos livros de colorir, que viraram uma “febre”
editorial. Surgiram tantos projetos com
temáticas tão diferentes que nos pareceu legítimo criar uma versão com o que,
na origem, é também nossa matéria-prima criativa na fábrica. Temos intimidade
considerável com estampas e cores e documentar e compartilhar essa expertise
num livro-caderno era uma ideia bem simpática e, melhor ainda, viável. As dicas
são uma citação de conteúdo, que também adoro produzir.
Um dos ganchos do lançamento foi a última edição do São Paulo
Fashion Week. Qual a sua rotina durante as semanas de moda, nas quais sempre
marca presença? O lançamento do livro tornou a agenda mais concorrida?
Lançamentos de livros são ocasiões sempre especiais para mim. É
hora de encontrar pessoas e amigos que você não vê corriqueiramente e conhecer
pessoas que, por algum motivo, acompanham nosso trabalho. Mas sempre é um
corre-corre. Nas semanas de moda, que é o momento “célebre” para a moda e para
quem trabalha com ela, invariavelmente priorizo, no Brasil ou na Europa, os
desfiles, me organizando para conseguir estar na maioria deles. É uma agenda
que depende de disciplina, logística e algum esforço, sobretudo quando já está,
digamos, numa idade avançada.
Se pudesse destacar, em linhas gerais, algumas dicas reunidas na
publicação, quais seriam as duas ou três principais?
Acho que perderia um pouco o elemento surpresa para quem tem
curiosidade com o livro, não:. Duas ou três dicas mais genéricas, pode
ser? A primeira: na hora de comprar
roupas e se vestir, faça do espelho e do bom senso seus melhores amigos; 2.
tente ser só você mesma, sem querer
imitar gratuitamente outra pessoa, e 3. lembre-se que corpo e cabeça bem
cuidados podem ser o reflexo mais evidente do quão em dia você está com a moda.
Outros nomes ligados ao universo fashion - produção e bastidores
- como Ronaldo Fraga e o pernambucano Arlindo Grund - têm movimentado a
literatura com lançamentos nos últimos meses. Que contribuições a moda traz ao
público-leitor, quando encartada em livros e acessível ao público que não
frequenta as semanas de moda?
Para um país como o Brasil, que não tem tradição ou bibliografia
de moda, o que começa a se formar agora, publicações e lançamentos são mais que
bem vindos. Assim, contribuições de
nomes respeitáveis como Fraga e Grund são referências concretas de que, apesar
de ser uma paixão recente, a moda interessa cada vez mais brasileiros de todas
as regiões, de diferentes classes sociais. E é muito bacana quando, em plena
revolução virtual, o caráter documental dos livros continue enriquecendo nossos
acervos. Livros, ideias, pontos de vistas e iniciativas que nos fazem pensar
são fundamentais para lembrar que educação, informação e conhecimento são os
pilares sociais da experiência humana e deixam a vida muito mais
interessante.
Tem outros projetos para a literatura previstos para os próximos
meses?
Tenho algumas ideias, alguns “rascunhos” e é possível que
realize um novo livro no próximo ano.
Você mantém perfis ativos nas redes sociais. Como vê o poder
desses canais, na condição de formadora de opinião?
Me divirto muito no Instagram, que é pura imagem. Uso mais como
hobby, inclusive nas férias, e dia desses me surpreendi com a marca de 250 mil
seguidores dispostos a acompanhar o que me interessa visualmente. De outras
“redes” tenho uma preguiça ancestral. Há, sim, um “poderzinho” em jogo, mas
prefiro nem observar este aspecto e
encarar mais como uma oportunidade de compartilhar experiências
estéticas e, bem eventualmente, observações sobre a rotina e o cotidiano.
Podemos avaliar os livros de colorir como uma tendência
passageira, assim como algumas apresentadas nas passarelas?
Num tempo tão veloz como o que vivemos, até nossa noção do que é
passageiro, fugaz, ficou relativa. Há, por exemplo, psicólogos e terapeutas que
há muito trabalham com esse tipo de publicação como recurso terapêutico e que
provavelmente vão continuar fazendo isso, independentemente dessa “tendência” supermultiplicada
recentemente em tempo recorde. Acredito que o grande lance da nossa época é
essa possibilidade de tudo coexistir. O que cita como tendência passageira na
passarela pode, porque não, ir de encontro ao estilo de alguém que vai adotar
aquela roupa por anos seguidos. É o jeito dela de estar na moda e essa
diversidade, no fim das contas, é uma experiência bem rica.
É grande a quantidade de informações de "pode" e
"não pode" que bombardeia, diariamente, meninas e mulheres que
almejam o padrão de beleza das top models. Qual o seu conselho para elas?
Estilo próprio ainda é a moda soberana?
Nunca gostei desse tipo de “autorização fashion”, nem de
conselhos porque acho meio invasivo se, de antemão, você conseguir respeitar
nas expectativas e escolhas do outro.
Sempre digo, aliás, que na moda é proibido proibir. Vejo, por exemplo,
mulheres da minha idade felizes da vida usando minissaias, saltos altíssimos ou
jeans justérrimos, desconstruindo, à maneira delas, o que antes parecia
impossível. Não sou eu quem vai dizer
que pode ou não pode. Mas esse é só um ponto de vista. Mesmo contra proibições
de toda ordem, acredito que, entre meninas ou mulheres, o bom senso precisa ser
cultivado em todas as idades. Sobre estilo, sempre digo também que é o que dá forma ao pensamento e mostra quem
você é de verdade. Estilo distingue quem
espelha de quem irradia. Ele nos dá
sentido de competência, prazer e segurança. Transcende tempo e gênero e - por
que não? - a própria moda.
O que Costanza faz, no dia a dia, para se manter como referência
de estilo? É um código de atitudes? Uma pesquisa por inspirações? Uma busca por
si mesma?
Para o tipo de aperfeiçoamento que busco, minha paixão por moda
também me fez descobrir que o estilo pode ser a melhor expressão do caráter de
alguém, uma legítima ressonância do que somos. Para mim, viver com mais estilo
significa transformar a banalidade da existência em experiência original,
exclusiva, não importa a idade que você tenha. Aos 70 e tantos, estar repleta de curiosidade, com agenda
cheia e fazendo malabarismos e pilates diariamente para dar conta de tudo é
inspirador como “pesquisa”, ação e experiência de algum estilo.
Meu caderno de estampas
Editora Planeta
96 páginas, R$ 34,90
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