Finanças: da diversificação à Marilyn Monroe

19 de jan. de 2012


Não colocar todos os ovos na mesma cesta é uma frase citada com muita frequência quando alguém fala sobre diversificação. Poucos sabem que essa frase aparece no livro Dom Quixote de La Mancha e foi dita por Sancho, seu fiel escudeiro, numa tentativa de fazer seu senhor ponderar os riscos de se meter numa luta com um cavaleiro bem mais forte e equipado. Essa, entretanto, não é a única referência que a literatura nos oferece sobre diversificação. William Shakespeare abre o Mercador de Veneza com uma conversa em que Antônio, o próprio mercador, discorre sobre suas estratégias de navegação dizendo que não gosta de colocar todos os seus recursos na empreitada de um único navio.
Certamente, esse conceito de diversificação, que evita uma potencial perda total, é considerada uma boa ideia faz muito tempo. Penso que uma das coisas mais bonitas nas boas ideias é que, frequentemente, elas evoluem. No caso da diversificação devemos a evolução do conceito a Harry Markowitz que, em 1952, publicou a Teoria do Portfólio, que acabou lhe rendendo um prêmio Nobel em 1990. Markowitz conseguiu provar que diversificação é bem mais do que a frase de Sancho consegue capturar. Na verdade, ele demonstrou que diversificação traz benefícios na relação de risco e retorno. Ou seja, em determinadas circunstâncias, que veremos a seguir, a diversificação permite aumentar o retorno esperado e simultaneamente reduzir os riscos dos investimentos.
Imaginemos por um instante um agricultor que decida optar por plantar um vegetal que chamaremos de A. Espera-se que, em condições normais, o vegetal lhe dê resultado de 100 unidades monetárias após um ano. Entretanto, se as condições de clima forem muito frias, o resultado poderá ser a perda de uma importante parte da colheita, e o resultado financeiro será de apenas 80 unidades monetárias. Já se o clima for quente, o cultivo se desenvolverá muito bem e o resultado poderá chegar a 120 unidades monetárias.
Estamos falando de um investimento de risco, pois não temos certeza do resultado que será obtido. Entretanto, conseguimos estimar o pior e o melhor cenário. No fim das contas, o agricultor espera ter um retorno de 100, podendo oscilar entre 80 e 120 unidades monetárias.
O agricultor tem a opção de em vez de plantar A, escolher outro vegetal, que chamaremos de B e que, em condições normais, dará a ele retorno de 120 unidades monetárias. Só que esse vegetal se desenvolve melhor em condições de frio, o que pode aumentar seus ganhos para 160 unidades monetárias. Entretanto, se o clima for quente, ele terá uma pequena perda de lucratividade e obterá lucros de 80 unidades monetárias. Ou seja, no caso de ele plantar o vegetal B terá retorno esperado de 120, podendo variar entre 80 e 160 unidades monetárias.
Podemos dizer que o vegetal B tem mais risco que o A, pois seus retornos são menos previsíveis. No caso de B, os retornos podem variar em 80 unidades, pois podem atingir um mínimo de 80 e um máximo de 160. Já no caso de A, a possível variação é de 40 (de 80 a 120).
Suponhamos que o agricultor (após ler Cervantes) decida dividir seu terreno em duas partes iguais. Numa delas, plantará A e na outra, B. Ao fazer isso, os riscos individuais de cada plantação caem pela metade, ou seja, na parte destinada a A, temos retorno esperado de 50, podendo variar entre 40 e 60. Já B tem retorno esperado de 60, podendo variar entre 40 e 80.
O interessante é que o resultado total da plantação combinada vai para 110 (50 de A e 60 de B), mas os resultados extremos mudam muito. Agora a possível oscilação passa a poder variar entre 120, caso o clima venha a ser frio (40 de A e 80 de B) e 100 se for quente (60 de A e 40 de B). Em outras palavras, o risco, medido como a amplitude de possíveis resultados, passa a ser de 20 unidades (de 100 a 120), ou seja, menor do que o risco de qualquer um dos vegetais tomados individualmente. A diversificação trouxe simultaneamente aumento de retorno e redução de risco. E não é apenas isso; a redução de risco se deu mesmo com a inserção de um ativo mais arriscado na carteira!
No caso em estudo, o benefício veio porque os dois vegetais não são afetados da mesma forma pelos eventos do clima. Para diversificar um portfólio de forma eficiente é preciso procurar ativos que não sejam perfeitamente correlacionados, ou seja, que não reajam da mesma forma aos acontecimentos do mercado.
Em 1953, apenas um ano após Markowitz lançar a teoria do portfólio, Marilyn Monroe estrelava o filme “Os homens preferem as loiras”. Não que tivesse algo a ver com diversificação, muito menos com Markowitz, mas no filme ela aparece numa célebre cena cantando “os diamantes são os melhores amigos das garotas”. Não consigo dizer quanto de certo existe na letra da música; entretanto, existe uma frase parecida, frequentemente usada nos Estados Unidos, que diz: “A diversificação é a melhor amiga do investidor”. E essa, sim, me parece muito apropriada. Só com a diversificação é possível aumentar os retornos enquanto se reduzem também os riscos.

Martin Casals Iglesias é gerente de Educação para Investidores do Itaú Unibanco.
Este artigo, que contou com a colaboração de Jurandir Macedo, professor da UFSC e consultor exclusivo do Itaú Unibanco, é o primeiro da série "Trilogia do risco". 

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